Veteranos feridos se voltam para o yoga em busca de força e consolo
No Centro Médico Naval San Diego, amputados e vítimas de traumas praticam uma antiga tradição Hindu. As Forças Armadas cada vez mais têm utilizando terapias alternativas.
16 de junho de 2013, 10:19 p.m.
SAN DIEGO — O 1º Sargento do exército Chris Montera, que perdeu ambas as pernas acima do joelho, e que teve mais de 60% do seu corpo tomado de queimaduras de terceiro grau em um ataque com morteiro no Afeganistão, está praticando a invertida sobre a cabeça, guiado por seu instrutor de yoga, Sunny Keays.
"Isso tira bastante a pressão das minhas costas e da coluna," disse Montera, 33 anos, ferido em seu 4º combate. "Ajuda com a dor."
O fuzileiro naval, Sargento James Bernard, 25 anos, que retornou de um combate em Helmand, província do Afeganistão com um caso grave de desordem de estresse pós-traumático, ali ao lado faz uma série de alongamentos, relaxamentos e exercícios respiratórios sob a suave orientação da instrutora de yoga Barbara Lyon.
A esposa de Bernard, Keely, de 25 anos, disse que o yoga está ajudando seu marido a retomar a calma e a autoconfiança que ele tinha antes de ir para a guerra. Ela o acompanha às aulas de yoga no Centro Médico Naval San Diego.
“Ele parece mais consciente agora de quem ele é”, disse ela.
Para ajudar o pessoal militar a superar as feridas físicas e emocionais das guerras no Iraque e no Afeganistão, hospitais administrados pelos militares e Departamentos de Assuntos de Veteranos estão cada vez mais se voltando para a antiga prática hindu de yoga e outras terapias alternativas, incluindo tai chi, meditação transcendental e Reiki.
De acordo com oficiais militares, embora não seja uma cura para tudo, essas terapias podem ser úteis quando usadas em conjunto com métodos ocidentais de aconselhamento, medicação, fisioterapia, e terapia ocupacional.
Estudos preliminares militares descobriram que o efeito calmante do yoga pode ajudar pacientes com desordem de estresse pós-traumático em lidar com a hipervigilância, flashbacks, depressão e ansiedade comuns à doença. Para os veteranos com amputações traumáticas, o yoga pode ajudar a fortalecer os músculos e aumentar a flexibilidade, os estudos sugerem.
"Há uma ressonância natural entre os nossos soldados e as coisas que têm um ethos oriental, com as coisas que os samurais possam ter usado", disse o capitão da Marinha Robert Koffman, um médico e especialista em estresse de combate do Centro Médico Nacional Militar Walter Reed, em Bethesda, Md.
"Yoga é uma coisa na qual nossos soldados irão se engajar ativamente: é um desafio com resultados prontamente evidentes," Koffman disse, particularmente quando pacientes o adotam como parte de seu estilo de vida.
Assim que Bernard deixar suas obrigações e se mudar com sua esposa e filha de 3 anos para Mesa, Ariz., ele planeja encontrar um instrutor de yoga, tanto no Departamentos de Assuntos de Veteranos quanto num estúdio privado.
"O Yoga tem ajudado pessoas há milhares de anos. Agora está me ajudando," ele disse.
No hospital San Diego, aulas oferecidas na sala de terapia do Comprehensive Combat and Complex Casualty Care são muitas vezes parte de um regime para que o paciente esteja apto inclusive a formas mais rigorosas de exercícios.
Fuzileiro da 1ª classe, Isaac Blunt, 22 anos, está na aula de yoga para se preparar para subir o Monte Kosciuszko, na Austrália. Ele perdeu as duas pernas acima do joelho e a visão no olho esquerdo no Afeganistão.
Durante a escalada ele vai usar seus "stubbies", disse Blunt, um termo para um conjunto inicial de próteses fornecidas aos pacientes de amputação.
Como Montera, Blunt pratica a invertida sobre a cabeça em suas aulas. Nos termos do yoga, elas são chamadas de "invertidas". O ‘pessoal ferido’ tem um termo mais gráfico: "drenando os tocos."
O fluxo de sangue para o tórax e a cabeça pode ser estimulante. A primeira vez que um tenente fuzileiro fez uma invertida sobre a cabeça na classe, ele se recusou a descer, dizendo que pela primeira vez desde que havia se machucado, não estava sentindo dor, disse um instrutor.
Outro membro dos fuzileiros, o Sargento Mark Zambon frequenta as aulas de yoga no hospital quatro vezes por semana, enquanto se prepara para escalar o Monte Kilimanjaro, na África. Sendo técnico de eliminação de explosivos no Afeganistão, as pernas de Zambon foram arrancadas por uma bomba enterrada.
"O Yoga tem sido um dos pilares da minha recuperação", Zambon, 28 anos, disse por telefone, da Flórida, onde ele vai em breve se tornar um instrutor na escola de destruição de material explosivo na Base Aérea de Eglin. Ele recusou-se a aceitar uma aposentadoria médica ou pensão por invalidez.
Vestindo próteses e acompanhado por Tim Medvetz do Projeto Heróis, em Los Angeles, Zambon escalou o Kilimanjaro, em meados de 2012, 18 meses após a sua lesão.
Quando chegou ao cume, Zambon colocou as ‘dog tags’ de dois amigos mortos em combate e fez uma invertida sobre a cabeça, uma demonstração tanto de desafio à sua lesão quanto de gratidão à terapia que o ajudou.
"Yoga", disse ele, "diz respeito a ter a mente e o corpo em um estado saudável."
Keays e Lyon são especialistas em Iyengar yoga, que utiliza 200 posturas clássicas de yoga e props, tais como blocos de isopor. O instrutor tem um papel importante na orientação dos estudantes através das posturas
Neste dia no início de junho, Keays está trabalhando com Montera, Blunt e um terceiro paciente que perdeu um membro em combate. Os três estão numa plataformas elevada e acolchoada. "Pressione as nádegas para baixo - é quando sua coluna fica mais longa", Keays diz suavemente.
Tradução Livre de Giuliana Sena
Fonte: http://articles.latimes.com/2013/jun/16/local/la-me-yoga-veterans-20130617